Havana, 8 de novembro de 2021

Nos próximos dias completarão quatro meses do 11 de julho e se pode dizer que neste espaço de tempo temos ganho vários combates na batalha que travamos desde 1959; digo vários combates, ainda que o primeiro deles e o mais importante se travou nesse mesmo dia, pois uma boa parte do povo, o mais decidido, saiu às ruas em defesa de nossa Pátria, de nossa Revolução e de nosso Socialismo.

Voltaram-se a equivocar, o imperialismo, a direita mafiosa de Miami, e os antissociais, muito bem pagos, que chegaram ao extremo de apedrejar um hospital pediátrico na cidade de Cárdenas.

Equivocaram-se quando acreditaram que as enormes dificuldades que estamos enfrentando fariam com que o povo, majoritariamente, convertesse as revoltas em uma explosão social e que ao Estado só restaria o caminho da repressão.

Sim, uma vez mais se equivocaram e nos dias posteriores, pretenderam demonstrar força novamente, porém o caminho dos “equívocos” somente lhes deixou a via de tentar “equivocar” ao mundo:

– o povo não subiu aos telhados para ver os fogos de artifício lançados da “flotilha” que primeiro disseram estaria composta por mais de 100 embarcações, das quais somente chegaram 4; faz rir pensar que a mais de 15 milhas (cerca de 24 km) os sinalizadores poderiam ser contemplados, como aparece nas fotos que mostram, e que o povo tivesse se reunido na orla para aplaudir. Melhor seria se perguntar quem ficou com todo o dinheiro que arrecadaram para esse show midiático.

– disseram que não se poderia comemorar o 26 de julho porque o povo estaria nas ruas pedindo o fim da “ditadura”; nesse dia, para que ninguém me contasse histórias, passei por alguns dos pontos quentes do passado 11 de julho e havia uma total tranquilidade; lamentavelmente, sem muitas filas para poder conseguir alimentos, porém, sem nenhum protesto.

– para o domingo, 1º de agosto anunciaram o início do armagedon e também fui por todo o Malecón, até o bairro de Alamar, por certo – se tivesse sido necessário – ia dirigindo com o agasalho que a Associação de Amizade “Francisco Villamil” dedicou à luta contra o bloqueio e nada de disturbios; tudo em paz embora fosse evidente a presença da polícia, já que idiotas seríamos se não tomássemos precauções. Por certo, foram vários os policiais feridos pelos “pacíficos” manifestantes do 11 de julho.

            – o 13 de agosto, para “comemorar” o 95º aniversario do nascimento de Fidel, uma greve geral convocada desde a Flórida, devia paralisar o país, porém, embora a notícia fosse difundida amplamente pelas redes antissociais, aqui ninguém tomou conhecimento e mais, se obedeceu a uma consigna contrária, popular, extraoficial e não difundida nas redes: muitos pelas ruas usavam camisetas ou bonés com a bandeira cubana, a figura do Che, consignas revolucionárias…

Tudo isso demonstra que, apesar das enormes dificuldades que enfrentamos, os anexionistas e seus mercenários não têm arrastado a imensa maioria de nossa sociedade.

Porém, no principio disse que havíamos ganho algumas batalhas e me atreveria a dizer que somente algumas, pois esta é uma nova variante da longa guerra que nos obrigam a travar.

Agora se encontram imersos na preparação de novos e perigosos shows contrarrevolucionários a desenvolver-se no próximo 15 de novembro, com os quais publicamente e em franca ingerência nos assuntos internos de nosso país se tem solidarizado até o próprio presidente estadunidense, Joe Biden.

No que a nós corresponde, devemos tirar algumas conclusões do ocorrido no passado 11 de julho e a primeira, básica, simples e muito realista delas, é que não podemos afastar a ilha do seu vizinho e pode que nos esperem piores momentos; o imperialismo ianque, embora em decadência, não deixa de ser poderoso e à medida em que esse declínio se acentue, o que pode durar décadas, tentará fortalecer o domínio sobre sua zona básica de influência, América Latina e Caribe, onde nasceu e cresceu como grande Império; para ele, Cuba foi, é e será um estorvo e como tal, temos que estar preparados não só militarmente. Temos que nos converter, internamente, em uma potência político-ideológica.

Para alguns dos revolucionários cubanos é uma honra nos enfrentarmos cara a cara com a potência imperialista mais poderosa do planeta, mais ainda quando outros quiseram distanciar-se dessa honra; ninguém inventou como remover remos de uma ilha para distancia-la de um inimigo e, ademais, na era tecnológica que vive a humanidade, sempre seremos alvo de foguetes portadores de outros tipos de ogivas.

Resta claro que, ainda que não estivéssemos a 90 milhas e sim a meio caminho entre a Europa e os Estados Unidos da América do Norte os perigos seriam os mesmos; no século passado, o movimento revolucionário mundial perdeu muito tempo e gastou energias pensando que a grande contradição era leste-oeste, quando na realidade para essa definição não se pode utilizar pontos cardeais e sim quantia de capitais.

Nestes momentos históricos a ditadura do grande capital funciona de qualquer ponto do planeta e seus foguetes mais perigosos possivelmente não sejam os militares e sim a ideologia, expressa através da cultura, no sentido mais amplo, que condiciona formas de pensar e de viver.

Em nossas condições de país pobre, subdesenvolvido, agredido constantemente – de uma forma ou outra – pelo império mais poderoso do planeta, mais do que já tem feito a Revolução Cubana por seu povo é impossível, no âmbito do social, da dignidade humana; um simples olhar comparativo com o triste e desigual contexto latino-americano e caribenho – nosso contexto – assim o demonstra.

Assim, o desenvolvimento da economia produtiva é obrigatório para sermos menos vulneráveis ao inimigo, perfeitamente conhecedor de que esse é o nosso calcanhar de Aquiles; somente assim seremos indestrutíveis política e ideológicamente.

Estamos no meio de uma guerra que – embora os cubanos a temos vivido desde 1959 – adquire novos matizes tanto pelos difíceis momentos que vive a humanidade e Cuba em particular, como pelo uso de novas tecnologias com fins subversivos. Basta dizer que neste momento vinte e quatro meios dos chamados “independentes” – que eu quantifiquei – transmitem para Cuba, em sua maioria desde a Florida e com dinheiro da administração estadunidense, toda uma campanha contrarrevolucionária baseada na desinformação, no ódio e na mentira (valendo-se em algumas ocasiões de meias verdades, mas narradas de forma mal intencionada).

Ante o fracaso para subverter a paz nas três tentativas posteriores ao 11 de julho (citadas anteriormente), e à solidariedade moral e material que tem chegado a Cuba de entidades e países conscientes de que enfrentamos uma covarde agressão – o triunfar traria gravíssimas consequências não somente para Cuba, senão, também, para o mundo (geopolítica mundial) e em especial para Nossa América – a ultradireita MUNDIAL tem preparado minuciosamente todo um plano a desenvolver no próximo dia 15 buscando que nossas forças de segurança se vejam necessitadas a reprimir a um setor (ainda que minoritário) da população; não se pode descartar – a CIA nisso é especialista – a existencia de planos que provoquem perdas humanas.

Campanhas muito bem dirigidas dos meios dependentes (de Washington), chuva de fake news (palavrinhas que se pronunciam risonhamente, como se fora algo engraçado) que vão desde supostos chamamentos de nossos ministros a unir-se a protestos contrarrevolucionários até “sublevações” em distintos lugares do país, mas sobretudo muito dinheiro para comprar consciências e vontades. Essa é a antessala do programa que preparam para o dia 15; buscam um povo confuso e uns revolucionários desmoralizados, melhor ainda se chegarem ao cúmulo de sentir medo a mostrar-se publicamente como tais.

Neste momento fazem pública sua rendição os portadores de dupla moral, que têm correspondido de joelhos às “definições” exigidas desde a Flórida; é este também o momento de covardes e débeis de espírito. No final de contas isto é benéfico, pois “limpa” nossa casa e é possível que possamos nos livrar de uma série de meios de subsistencia; enquanto as tetas da vaca lhes dêem leite, elas estão mamando sem fornecer alimento.

Como escrevera nosso José Martí: “É a hora das fornalhas, em que não há de se ver senão a luz”.

Deixo claro que quando disse em parágrafos anteriores que o plano contra Cuba é da ultradireita MUNDIAL é que estou convencido de que não se trata da administração Biden – seu plano contrarrevolucionário consistia em restaurar a era Obama – que simplesmente tem cedido e rendido ante os setores ultradireitistas mafiosos que fracassaram durante 62 anos no empenho de destruir a Revolução e o que têm logrado, lamentavelmente, é atrapalhar o nosso desenvolvimento econômico com o qual poderíamos demonstrar ao mundo a superioridade do Socialismo como sistema capaz de lograr uma harmonia entre o social, o ecológico e o econômico.

Esse plano da ultradireita Mundial, sim, bem é certo que o encabeça a ultradireita mafiosa e fascistoide miamense, é apoiado por seus congêneres europeus e latino-americanos que vêem com preocupação a crise em que está mergulhado seu guarda mundial e que pode arruinar a unipolaridade que os mantém no topo.

Contra esses planos imperiais, apoiados por uma maquinaria bem lubrificada, estamos obrigados a atuar de forma educativa, persuasiva e inteligentemente. Nossos órgãos de imprensa mostram quem são os indivíduos que preparam os chamados protestos “pacíficos” e quem os financia. Para todos aqui deve ficar bem claro que a convocatoria do dia 15 é contrarrevolucionária, se faz desde a Flórida, com financiamento estadunidense e os que aqui a apoiam são seus bem pagos súditos.

Para nós, os revolucionários cubanos, deve também ficar claro que nosso dever é estar frente a esses súditos; deve sobrar pessoas para enfrentá-los.

Temos que estar conscientes de que ainda de todas as formas nos vão acusar de repressão (isso é parte do programa contrarrevolucionário), tem que ficar bem claro para nós mesmos e para o mundo que a imensa maioria de nosso povo tem a integridade e a moral para se opor a mercenários e anexionistas.

Aqui na América Latina esta guerra de quarta geração, como alguns a denominam, já a utilizaram contra Venezuela e Nicarágua (por favor, vejam o documentário “Nicaragua. Guerra contra el pueblohttps://youtu.be/4JSR8pUNXYA).

Mas bem, para poder comprender o que hoje se trama creio imprescindível remontar-se às causas e aos antecedentes dos distúrbios do 11 de julho; desnecessário dizer que há anos o imperialismo preparava as condições para esse novo tipo de guerra baseada na desinformação, principalmente, através das redes sociais convertidas em redes subversivas e que eu as chamo – para fazer a diferença – redes antissociais.

O denominado grupo de San Isidro (na realidade grupito) preparou as condições para o primeiro dos shows, o 27 de novembro. Não foi por acaso que escolheram esta data, sagrada para os cubanos, em que o colonialismo espanhol fuzilou oito estudantes de medicina em 1871.

Dentro do grupo que se reuniu em frente ao Ministério de Cultura se encontravam desde históricos elementos antipatrióticos e anexionistas, até terroristas pagos que tinham como missão apedrejar um estabelecimento que se encontra frente a esse Ministério para assim começar os distúrbios e buscar uma intervenção repressiva das autoridades; não obstante, também resulta inegável que nesse grupo, ademais, se encontravam pessoas que ali foram tendo em vista a convocatoria nas redes (sociais e antissociais) com distintos interesses, desde o de demonstrar inconformidade ante tal ou qual política até o simples curioso que, mais que saber o que acontecia desejava conhecer o que aconteceria, pois fatos como esses não são comuns em Cuba.

O espírito dissuassivo das autoridades da cultura cubana – mesmo conscientes de que no grupo existiam indivíduos com os quais é impossível dialogar (se encontravam entre outros, por exemplo, Yunior García y Tania Brugueras), conhecidos por suas posições contrarrevolucionárias – impediu que ali se produzissem distúrbios que pudessem  culpar o Estado cubano.

Não obstante, a maquinaria já estava montada e a pedido da ultradireita miamense, que através das redes antissociais prometia pagamento a mercenários, em vários lugares de Havana foram apedrejados alguns centros comerciais.

A partir desse momento nossa imprensa se deu a tarefa de mostrar claramente ao povo quem eram os supostos artistas do grupito San Isidro (como agora fazemos com os organizadores dos “protestos” do 15-n), quem os apóia aqui e o mais importante, quem os financia.

O 27 de janeiro, véspera do aniversário de nosso Herói Nacional, José Martí, e dia em que a cada ano nossos jovens, em comemoração, vêm juntos para marchar desde a Universidade de Havana até a Fragua Martiniana, onde Nosso Apóstolo sofreu trabalho forçado, os apátridas tentaram repetir o show de novembro; desta vez, segundo as agências de notícia estrangeiras, somente se mobilizaram eles; não congregaram nem sequer uma vintena, incluido os jornalistas “independentes” (dependentes do dinheiro de Washington), que supostamente iam trasmitir ao vivo o multitudinário protesto.

Simplesmente, nesta tentativa a desinformação – como método – lhes fracassou porque o povo todo já sabe quem são esses indivíduos e quem os financia.

Por mais que invocassem a San Isidro, este não podía fazer milagres, e não conheço histórias em que os santos façam Milagres a favor de Satanás; é que em Cuba todos sabem, até os desafetos, quem são os integrantes desse grupito.

Com imagens e com suas próprias palavras seus integrantes apareceram em nossos órgãos de imprensa: uns pedindo uma intervenção ianque e um bloqueio militar total, outros fingindo greves de fome e até quem, muito “artísticamente”, posou defecando em um sanitário envolto em nossa Bandeira Nacional, a mesma pela qual têm dado a vida centenas de milhares de cubanos em mais de 150 anos de luta.

Como bem diz a canção “Com Cuba não te metas”, que muito se ouviu aqui em dezembro e janeiro: “Quem queira se confundir que se confunda”. Ver e ouvir, para os que gostem da música, https://youtu.be/9NEhh6lzcOk .

Ao não conseguir “milagre” de um San Isidro que converteram em Satanás, não restava outra alternativa à máfia miamense e a seus mercernários nativos, para evitar que a atual administração estadunidense retornara à política de Barack Obama para Cuba, que provocar distúrbios de maior envergadura a fim de obrigar a Biden a seguir os passos da administração Trump.

O bloqueio a que temos sido submetidos por mais de sessenta anos ao qual se somam as 243 medidas de Donald Trump para intensificá-lo e assim nos asfixiar, a queda acentuada da nossa economia como consequência do encerramento do turismo, por causa da Covid-19 e as medidas trumpianas, e a crise em que a pandemia mergulhou nosso sistema de saúde criaram todas as condições para tentar provocar uma explosão social (queda do PIB de 13%).

Já em julho as condições socioeconômicas estavam dadas para, valendo-se da desinformação, provocar os desejados distúrbios: apagões de até mais de seis horas por rupturas nas centrais elétricas – resultado da carência de peças de reposição – aumento dos casos positivos de Covid-19, enorme escassez de remédios imprescindíveis, alimentos e outros produtos de primeira necessidade – como consequência enormes filas para poder adquiri-los – proliferação do mercado paralelo que tem multiplicado os preços de todos os bens e serviços, razão pela qual o aumento nos salários e pensões, decretado como parte da unificação monetária levada a cabo em janeiro, para muitos se dissolveu em nada e, ademais, veio a beneficiar os acumuladores…

Assim, fácil é apreciar que a máfia miamense e a ultradireita norte-americana contavam com condições para poder manipular um setor da população; infelizmente, há que se reconhecer que nas atuais circunstâncias sobram os descontentes, desesperançados, céticos, despolitizados… e que em épocas de crises brota nos seres humanos tanto o melhor quanto o pior.

Isso por nada, como quer fazer crer a propaganda ultradireitista, foram espontâneas nem pacíficas as manifestações do 11 de julho, como fica demonstrado pelo fato de que de forma quase sincronizada, com apenas minutos de diferença, se iniciaram em distintas cidades do país.

Essa mesma propaganda, se contradizendo, tem expressado de forma cínica e venenosa que desde o exterior e em conluio com seus agentes internos, demorou muito tempo preparar este “levante” que “pareceu em grande parte espontâneo”. (Ver https://www.cubacute.com/2021/08/10/villa-del-humor-el-grupo-de-facebook-que-prendio-la-chispa-de-las-manifestaciones-masivas-en-cuba-el-pasado-11-de-julio/).

Só de olhar as imagens das lojas saqueadas (por certo, o subtraído delas foram majoritariamente eletrodomésticos e bebidas alcoólicas), o apedrejamento às patrulhas policiais e até de centros de saúde, a destruição de veículos e o ataque aos cidadãos que se manifestaram contra esses fatos vandálicos, demonstram que de “pacíficos” nada tinha boa parte dos manifestantes.

Como é lógico essa propaganda omite que o chamado “levante” não se iniciou em San Antonio de los Baños, como querem fazer crer, pois antes que ocorressem os distúrbios nesse lugar já havia sido apedrejado um estabelecimento em Havana, específicamente no municipio Boyeros (se adiantaram à hora marcada), e tão pouco dizem que antes que o presidente Miguel Díaz-Canel Bermúdez se dirigisse ao país pela televisão, às 4 da tarde, já haviam dezenas de atos de vandalismo em distintas cidades e também em muitos lugares o povo já havia enfrentado os vândalos.

A violência, financiada e promovida a partir do exterior, já se fazia sentir nas ruas de diferentes cidades, em mais de seis estados, quando o presidente Díaz-Canel convocou o povo a defender sua Revolução, embora, como já disse, em muitos lugares o povo não esperou ser convocado.

Tentaram fazer crer que foi o governo que promoveu a violência ao chamar a defender a Revolução. Traição teria sido não haver chamado a defendê-la. Não ter atuado assim, hoje talvez o país estivesse ocupado por fuzileiros navais ianques e o povo, o melhor do povo, estaria nas ruas em luta contra a ocupação. Os posteriores chamados, a partir da Flórida para bombardeios e intervenções “humanitarias” assim o demonstram.

A propaganda inimiga, para ser consumida no exterior e para quem aqui queira deixar-se confundir, diz que os enfrentamentos e os distúrbios se produziram porque o presidente Miguel Díaz-Canel Bermúdez chamou a defender a Revolução e com ele as turbas oficiais iniciaram a agressão contra os “pacíficos” manifestantes.

O chamado a defender a Revolução por parte do Presidente ocorreu entre 4 e 4:30 da tarde e já a essa hora mais de 30 saques a lojas e inumeráveis fatos delinquentes tinham sido relatados. O único que fez Díaz-Canel foi cumplir com seu dever constitucional ao evitar que elementos anexionistas, se valendo de setores antissociais, pusessem o país à beira da intervenção estrangeira que se defende a partir da Flórida.

Que buscavam? Que de braços cruzados assistíssemos à destruição de um país por parte de um pequeno grupo delinquente que sem ideologia, nem nada que se pareça, entregaria o poder à máfia miamense e seus fanfarrões.

Ademais, é bom reiterar, também, que antes que o Presidente se dirigisse ao país por rádio e televisão, muitos – sim de forma espontânea – se encontravam nas ruas defendendo sua Revolução, desde trabalhadores manuais até cientistas, e que vários deles, ao tentarem persuadir aos “pacíficos” manifestantes foram agredidos por eles e ficaram feridos.

Pretendiam que, quando já nas ruas muitos cubanos defendiam sua Revolução, as autoridades governamentais fizessem silêncio? Isso teria sido, simplesmente, uma covardia e traição.

O primeiro dever de um revolucionário é defender sua Revolução até com sua própria vida, se fosse necessário; é esse o ensinamento que nos legaram nossos heróis desde o século XIX passado.

Por ocasião dos eventos do 11 de julho, algumas pessoas, honestamente, confundidas pela enorme campanha anti-cubana, se perguntam – inclusive, me têm perguntado – como é possível a existência de tantas referências nas redes sociais sobre a falta de liberdade em Cuba, violação aos direitos humanos, etcétera, etcétera, etcétera.

Nisto há de tudo; existe uma ínfima minoria que, por sua procedência de classe, não vê além dos interesses plantados em sua psique – para esses o grande perigo é o socialismo, que poderia tirar-lhes a sacrossanta propriedade privada – fizeram eco e colocaram em suas páginas de Facebook e em outras redes sociais noticias tergiversadas sobre Cuba quando em nenhum momento se preocuparam com os mais de 300 jovens chilenos que em meses muito recentes perderam a visão de um ou de seus dois olhos, por causa da repressão, ou por milhares de desaparecidos na Colômbia e o extermínio desencadeado nesse país contra os líderes comunitários; para citar exemplos.

Muitos desses membros das chamadas classes médias (majoritariamente primeiro mundistas), mentalmente, aspirantes a milionários, não percebem que o capitalismo, como sistema, está em crise e para manter a hegemonia precisa recorrer a uma fase extrema, a neoliberal, na qual eles são simples peões de uma ideologia que os leva a exaltar o individual sobre o coletivo; assim, serão eles precisamente os mais prejudicados, pois correm o risco de “descer” da classe média para “simples” trabalhadores.

Para torná-lo mais compreensivo: o grande capital, que leva tudo com seus grandes investimentos e contra o qual não se pode competir, vê essas classes médias como anódinas, improdutivas, parasitárias e as convertem, como já têm feito em muitos lares, em suas empregadas.

Porém, voltemos ao tema que nos ocupa, pois resultam uma minoria estes “lutadores” em prol dos direitos humanos individuais em Cuba e que nunca têm se preocupado com a luta em prol dos direitos humanos na humanidade – incluido o mais elementar de todos: o direito à vida – obviamente que seus países pertencem à cadeia de opressores que sangram e ensanguentam o terceiro mundo, pelo que indiretamente se convertem em cúmplices.

Outro grupo, um pouco mais numeroso de “lutadores” nas redes, está integrado por cubanos que emigraram por diferentes razões, majoritariamente econômicas, e que direta ou indiretamente vêem comprometida sua economia individual se não se dobram aos desígnios da máfia cubano-americana; assim vemos como, de um dia para outro, tendo familiares próximos em Cuba que dependem direta ou indiretamente de suas remessas pedem nas redes “antissociais” mais bloqueio, intervenções “humanitarias”, invasões…, como se as bombas e a fome tivessem nomes e sobrenomes.

Dentro desse grupo estão também os que cobram migalhas para realizar esse trabalho sujo contra a Pátria que, em muitos casos, lhes brindou a oportunidade de desenvolver-se como pessoas. Estes são os mais desprezíveis.

Dentro dessa fauna repugnante se encontram aqueles que se “pronunciam” nas redes “antissociais” para salvaguardar os interesses econômico-profissionais ou artísticos que já possuem nos Estados Unidos, aos quais teriam que renunciar se não piscassem o olho para a máfia miamense.

Por último, e aí está a grande maioria das mensagens que inundam as redes, está comprovado que a Agência Central de Inteligência (CIA) e a ultradireita ianque-miamense utilizam aberta e descaradamente as redes sociais contra Cuba; para isso se valem de aplicativos automatizados a fim de gerar centenas de milhares de repetições, o que converte a linha contrarrevolucionária em uma tendência artificial nas redes.

Agora bem, para avaliar o contexto do ocorrido nos dias 11 e 12 de julho – como já dissemos – não basta denunciar o papel do imperialismo estadunidense, a máfia miamense e seus mercenários domésticos, assim como tão pouco atribuir tudo que ocorreu à difícil situação econômico-social que atravessamos como consequência da agressão imperialista e da maldita pandemia.

Esses dias foram muito tristes; tristeza porque custava muito ver como muitas pessoas, a maioria jovens, se lançaram às ruas em protesto contra um Estado que lhes tem dado tudo. Esqueceram que em nosso contexto, América Latina, um pobre não chega sequer a ser um cidadão de terceira, pois precisa de direitos.

Creio que para nós, agora, o mais importante é perguntar-se quais têm sido as causas facilitadoras de que milhares de pessoas tenham saído a apoiar protestos, tanto de forma vândala como pacíficamente.

Por décadas uma boa parte dos revolucionários cubanos esperamos por mudanças e reformas que permitam aperfeiçoar nosso modelo socialista.

Fidel percebeu o perigo que nos esperava; daí o conceito de Revolução expressado em seu discurso de 1 de maio de 2000:

Revolução é sentido do momento histórico; é mudar tudo que deve ser mudado; é igualdade e liberdade plenas; é ser tratado e tratar aos demais como seres humanos; é emancipar-nos por nós mesmos e com nossos próprios esforços; é desafiar poderosas forças dominantes dentro e fora do ámbito social e nacional; é defender valores nos quais se crê ao preço de qualquer sacrificio; é modéstia, desinteresse, altruísmo, solidariedade e heroísmo; é lutar com audácia, inteligência e realismo; é não mentir jamais nem violar principios éticos; é convicção profunda de que não existe força no mundo capaz de quebrar a força da verdade e as idéias. Revolução é unidade, é independência, é lutar por nossos sonhos de justiça para Cuba e para o mundo, que é a base de nosso patriotismo, nosso socialismo e nosso internacionalismo.

Daí também e de uma forma muito mais clara e nítida suas palavras na Aula Magna da Universidade de Havana em 17 de novembro de 2005; aliás, um discurso que bem poderia ter sido feito hoje e que vale a pena ler e reler, pois identifica claramente os problemas e erros que põem em perigo a nossa Revolução e repercutem, inclusive, contra os ideais socialistas além das fronteiras. Então ele sentenciou:

Este país pode autodestruir-se por si mesmo; esta Revolução pode destruir-se, os que não podem destruí-la hoje são eles; nós sim, nós podemos destruí-la, e seria culpa nossa.

A compreensão do momento histórico para mudar tudo o que devia ser mudado começou a ficar mais lenta com o distanciamento de Fidel – por problemas de saúde, em julho de 2006 – de suas funções como Presidente do Conselho de Estado.

Desde outubro de 1997 até abril de 2011, durante quase 14 anos, o Partido não realizou nenhum congreso.

No VI e posteriormente no VII congressos do Partido (abril de 2011 e abril de 2016, respectivamente) se discutiu e adotou muito importantes – mais que importantes creio que imprescindíveis – transformações econômicas e sociais que lamento muito não tenham sido implementadas resolutamente pela Geração Histórica da Revolução.

Temos padecido anos de imobilismo político e implementação a conta gotas das transformações econômicas popularmente desejadas; anos nos quais o povo não foi mobilizado e todos estavam na espera da implementação dos acordos tomados nesses congressos.

Agora bem, não vale a pena lamentarmos (impossível retroceder no tempo), nem tão pouco pedir cabeças, o que nos levaria a nos dividirmos em momentos cruciais (na história de Cuba, sempre que nos dividimos o imperialismo tem conseguido impor seus desígnios). Podem ser variadas as causas que motivaram a lentidão para levar às vias de fato esses acordos: desde um nobre excesso de cuidado para que, com o império à frente, não se escapasse do controle da situação, até os insanos interesses da burocracia temerosa – como diria Silvio Rodriguez – de perder o molho de chaves.

O certo é que por uma causa ou por outra a inércia nos tem levado a uma complexa situação social. Impossível ignorar a existencia na população de todo um setor despolitizado, produto em boa medida do imobilismo e da pobre relação dos dirigentes com o povo, porém, o pior é que dentro deste setor existem elementos marginais que pagos ou manipulados são capazes de assaltar tanto uma loja como um hospital.

O imperialismo e a ultradireita miamense sabem perfeitamente que em meio à crise econômica que vive Cuba esses elementos são seus melhores aliados. (Histórico bloqueio de mais de 60 anos + 243 medidas trumpianas para nos asfixiar + pandemia de Covid – 19 que provoca a paralisação de nosso primeiro ramo econômico, o turismo, + crise econômica mundial = momento muito difícil a ser aproveitado pela ultradireita. Dolorosa, porém muito realista e simples somatória).

Para neutralizar esta situação adversa e assim evitar eventos como os de 11 e 12 de julho só há um remédio: mais socialismo; mais socialismo significa unidade com as massas, mais transparência, mais diálogo e discussão.

Diálogo e discussão com o povo, com esse povo que nesses dias defendeu nas ruas sua Revolução e com todo o que, inequívocamente distanciado da máfia miamense, propõe retificações no processo revolucionário, que bem poderia nos ajudar na luta por fazer invencível a nossa Pátria na luta contra o imperio e seus anexionistas, se encontrem na Flórida ou em Cuba.

Sim, diálogo constante com o povo, com esse povo que de forma muito translúcida Fidel conceituou em seu histórico apelo “La historia me absolverá”.

Basta de organizações que a burocracia imobilista condena ao papel, de acordo a seus interesses, sem tarefas que movam músculo e consciência.

Basta de Poder Popular ao qual o povo não recorre por saber que seus problemas não podem ser solucionados por esse ente.

É imprescindível colocar para funcionar tudo que está estagnado. Muitas pessoas esperam ser chamadas a participar na solução dos seus próprios problemas.

Em nossa Revolução, sobram experiências dessa prática, algumas delas muito próximas, como por exemplo a restauração de toda uma série de áreas em Havana após a passagem de um poderoso tornado em janeiro de 2019. Então todos os setores econômicos do país, junto à população, se voltaram para reparar rapidamente os danos causados.

Este povo heróico que suporta muito sérias penúrias socioeconômicas, merece que se abandonem as práticas burocráticas e se facilite a participação na solução de seus problemas, sem esperar os toques de varinhas mágicas patriarcais que, das alturas porém a muita distância, brindem água, comida, casas reparadas, calçadas e ruas transitáveis… São incontáveis os problemas acumulados e a solução somente está no trabalho: no trabalho de todos.

Há que renovar esta Revolução e nessa renovação apoiá-la, como nasceu e como continuou durante décadas, no povo. Isso é Pátria, isso é Revolução, isso é Socialismo.

É urgente atualizar e colocar no contexto as organizações políticas e de massas: Que o povo se aproprie delas e elas do povo!

Não basta governar para o povo; tem que aprovar a consigna de governar com o povo: isso é democracia socialista, a única e verdadeira.

Decisões aprovadas ou melhor ainda, tomadas pelas massas, implicam compromisso social.

Fidel nos ensinou – parafraseando-o – que as massas nunca se equivocam e sempre têm a razão. Creio que é assim, porém, se ao governar com o povo algum erro ocorresse, o equívoco seria humano e não se poderia culpar ao Socialismo como sistema, nem aos governantes que nesse momento estivessem à frente do país.

Afortunadamente parece que a atual direção do país aprendeu a lição. Temos visto como em poucas semanas se tem resolvido problemas, em bairros com certo grau de marginalidade, que levavam anos perturbando a vida normal dos cidadãos; temos visto como serviços que às vezes demoravam meses de atraso para serem concluídos, agora se solucionam em dias. Temos visto que retorna a saudável prática dos dirigentes caminharem pelas ruas e conversarem com o povo.

Faz falta também recordar à burocracia o claro conceito que nos ensinou o Che do que é um contrarrevolucionário:

Contrarrevolucionário é todo aquele que contraria a moral revolucionária, não se esqueçam disso.

Contrarrevolucionário é aquele que luta contra a Revolução, mas também é contrarrevolucionário o senhor que usando sua influência consegue uma casa, que depois consegue os carros, que depois viola o racionamento, que depois tem tudo o que não tem o povo, e que o ostenta ou não ostenta, mas o tem. Esse é um contrarrevolucionário, a esse sim há que denunciá-lo imediatamente, e ao que utiliza suas influências boas ou más para seu proveito pessoal ou de seus amigos, esse é contrarrevolucionário e há que persegui-lo, mas com fúria, persegui-lo e aniquilá-lo. O oportunismo é um inimigo da Revolução e floresce em todos os lugares onde não há controle popular…

                                                                Discurso a los miembros del Departamento de Seguridad del    

                                                                Estado, 18 de mayo de 1962. Ernesto Che Guevara. Escritos y

                                                                Discursos. Tomo 9. Editorial de Ciencias Sociales,                                                                                                                                                                                                                                  

                                                                La Habana, 1977.  Págs. 220-221

A Fidel e ao Che temos que ir constantemente e perguntarmos que fariam eles ante tal ou qual contingência. Por isso, nestes momentos em que é imprescindível implementar as decisões tomadas há anos devemos retornar à sentença do Che no sentido de que não se pode construir o socialismo com as armas surradas do capitalismo:

Se corre o risco de que as árvores impeçam ver o bosque. Perseguindo a quimera de realizar o socialismo com a ajuda das armas surradas que nos legara o capitalismo (a mercadoria como célula econômica, lucratividade, o interesse material individual como alavanca etcétera), se pode chegar a um beco sem saída. E se chega lá após percorrer uma longa distância na qual os caminhos se entrecruzam muitas vezes e onde é difícil perceber o momento em que se errou a rota. Enquanto isso a base econômica adaptada fez o seu trabalho secreto sobre o desenvolvimento da consciência. Para construir o comunismo, simultaneamente com a base material há que fazer o novo homem.

                                     El socialismo y el hombre en Cuba. Ernesto Che Guevara. 1965.

                                     Carta dirigida a Carlos Quijano, editor del semanario uruguayo

                                     Marcha, quien la publica en la edición del 12 de marzo de 1965.                                                                                                                                                                                                               

A situação é bem difícil e complexa; possivelmente mais difícil e complexa do que nós mesmos pensamos e o imperialismo está consciente dela e disposto a aproveitar este momento.

Para frustrar seus planos é imprescindível – repito novamente – restabelecer a interação e o diálogo constante com o povo, o que tem caracterizado nosso processo revolucionário e que em momentos tem desaparecido do fazer político.

Não podemos nos dar ao luxo de nos equivocarmos agora; não só por Cuba, senão

também pelo Socialismo, único sistema capaz de salvar a humanidade, pois deixaríamos de existir e com ele se distanciaria a vitória da utopia; tão pouco podemos errar o caminho da salvação pois mais tarde morreríamos por haver escolhido o caminho mais longo entre o capitalismo e o capitalismo. Para tudo há exemplos, e no caso de Cuba esse caminho tem só um sentido de orientação: rumo norte.

Convencido estou de que uma vez mais, este, o povo cubano sairá vitorioso. Não obstante, deve ficar claro que a vitória que se avizinha será fruto de um povo que não se deixou confundir e que está disposto a lutar.

O que hoje vivemos em Cuba, no sentido da ligação dirigente-povo não pode ser conjuntural. O lema do governo para, com e DO povo tem que chegar para ficar e ser aprovado com excelente.

Há que estruturar todas as condições para que o governo seja o povo e, por certo, não só nos bairros e comunidades, através do Poder Popular, senão também nos setores econômicos.

Que os sindicatos trabalhem para que os acomodados e burocratas tremam.

Que tremam mercenários, anexionistas, burocratas, acomodados e oportunistas para que um dia fatídico o povo não tenha que tremer.

Não só devemos fazer desta uma Revolução indestrutível, senão também evitar que a burocracia a mediatize.

Sim, há que protestar, mas protestar DENTRO da Revolução e esses protestos têm que estar não só aprovados senão, também, incentivados e ver em quem exerce esse direito um revolucionário valente e meritoso.

* Autor dos livros “La guerra no fue de fútbol”, menção única do Prêmio Casa de las Américas, 1974; “La revolución de los camaleones” e “Hablar de Cuba hablar del Che: conversaciones con Leonardo Boff y Frei Beto”.

Tradução: Lujan Maria Bacelar de Miranda