A mais da metade de seu mandato, Donald Trump parece ter obtido a primeira vitória em sua política latino-americana, o que lhe somará forças na luta para obter um segundo mandato em novembro de 2020.

Recordemos que sua plataforma eleitoral para este lado do planeta se baseou na construção de um muro na fronteira com o México para conter a emigração procedente deste país, Centro-América e outras regiões do mundo. Esse muro teria que ser pago pelo país vizinho.

Não é a primeira vez que nesse país de imigrantes se desata uma política anti-imigração. Para citar só o exemplo mais recente, durante as administrações passadas do presidente democrata Barack Obama, entre 2009 e 2017, foram deportados 2,8 milhões de migrantes, incluídos meio milhão de crianças nascidas no território estadunidense, deportadas junto com seus pais. Não obstante, foi Donald Trump o primeiro a fazer da guerra contra os imigrantes o eixo de sua política exterior para Latino-América e o Caribe. De fato, durante sua campanha eleitoral prometeu deportar 6 milhões.

Estados Unidos não é uma nação, é um país conformado por imigrantes de muitas nacionalidades, incluindo mais de 57 milhões de latino-americanos que marcharam para a maior economia do mundo em busca do sonho americano, que para ser conformado e mantido tem convertido em pesadelo todo o sul de suas fronteiras.

No que alguns analistas, incluindo-me entre eles, consideram como um fenômeno provocado pelos grupos de poder estadunidense para facilitar a Trump a aplicação de políticas anti-imigrantes e, por sua vez, colocar em crise o governo do presidente López Obrador, nos últimos meses várias caravanas de cidadãos centro-americanos cruzaram o território mexicano em busca de atravessar a fronteira desse país com os Estados Unidos.

Assim, dezenas de milhares de seres humanos entraram em território mexicano e ao chegar à fronteira com os Estados Unidos não só lhes impediu a entrada senão que esse país procedeu a deportação massiva não para os países de origem, senão para o México que se viu imerso em uma crise humanitária que transbordava suas possibilidades de solução. 

Desde o princípio, negado a utilizar a repressão contra os infelizes imigrantes que fugiam da miséria e da violência provocadas pelo sistema, o presidente López Obrador fez saber publicamente ao governo de Donald Trump que a solução à problemática migratória reside em atender as causas através da promoção do desenvolvimento dos países centro-americanos. 

Longe disso, o Departamento de Estado procedeu a fechar programas de assistência aos países do triângulo norte centro-americano (Guatemala, Honduras e El Salvador) e em especial, seu instrumento de penetração, a Agência dos Estados Unidos para o Desenvolvimento Internacional (USAID), desviou milionários fundos destinados a esta área para o financiamento do autoproclamado presidente venezuelano Juan Guaidó.

Ante a chantagem da aplicação de um aumento progressivo às tarifas dos produtos provenientes do México, o que teria causado uma crise econômica de incalculáveis proporções, o governo de López Obrador chegou a acordos com seu vizinho do norte que lhe convertem em um vigia da fronteira estadunidense, ao comprometer-se a deslocar milhares de soldados da Guarda Nacional para cuidar de sua fronteira sul, com Guatemala, e frear assim o fluxo de imigrantes que tentem cruzá-la; igualmente, se aceita a devolução ao México dos migrantes que solicitem asilo através desta via fronteiriça, até que as autoridades estadunidenses determinem caso a caso.

Por sua vez, o imperador Trump, para que não haja equívoco, tem deixado claro que se o México não cumpre com o acordado, imporá as tarifas que considere conveniente.

Já neste ano, somente no caso dos guatemaltecos, mais de 50.000 foram devolvidos ao seu país.

Desta forma, pouco a pouco, as mortes na fronteira, as crianças latinas que faleceram sob a custódia federal, o cuidado para garantir os direitos humanos dos imigrantes que tentem chegar aos Estados Unidos, o financiamento para solucionar os problemas dos que já tenham ingressado a seu território…, tudo, pouco a pouco, com esse acordo, vai passando para a responsabilidade do México.

Uma chantagem parecida aplicou Trump ao débil e desprestigiado governo guatemalteco ao considerar, publicamente, que “não se comportou bem” e por esse motivo as exportações desse país para os Estados Unidos poderiam ser tributadas se não firmasse um acordo de “terceiro país seguro”.

Rapidamente, o presidente Jimmy Morales, que em uma ocasião já afirmou que poderia pedir aos Estados Unidos a presença de militares estadunidenses em sua fronteira, “chegou” a um acordo mediante o qual os migrantes de outras nacionalidades deverão solicitar asilo ao chegar a Guatemala e não na fronteira estadunidense. Assim, Guatemala se converte em um “terceiro país seguro” para os Estados Unidos.

Em síntese, todos os migrantes centro-americanos ou de qualquer outra nacionalidade que pretendam ingressar, por via terrestre, ao território estadunidense deverão buscar refúgio no México ou na Guatemala e desses países solicitar asilo.

Como ápice, finalizou o mês de julho com uma autorização da Corte Suprema que permite ao inquilino da Casa Branca a utilização de 2,5 bilhões de dólares do orçamento do Pentágono para a construção do muro fronteiriço com o México.

Trump pretende construir os mais de 1.500 km de muro que restam aos 1.200 já existentes, para evitar a “invasão” dos que estima como novos bárbaros.

Fica por ver se lhe ocorre envenenar as águas do Rio Bravo, barreira natural que historicamente também funciona como “muro” entre os dois países, para que assim, os supremacistas brancos contém também com um “rio seguro” que os proteja.

Pelo momento, esta parece ser uma batalha ganha em seu caminho às aspirações para um segundo mandato que tudo parece indicar somente poderiam ser impedidas por uma crise econômica – o norte-americano médio pensa com o bolso – ou um grande escândalo político. Esperemos; ainda é cedo.

Eddy E. Jiménez

(https://bencomun.gal/gl/de-nuestra-america/numero-98/)

Tradução: Lujan Maria Bacelar de Miranda