Nos últimos dias temos visto inúmeras resoluções, notas, artigos, textos, vídeos, transmissões ao vivo, mensagens as mais diversas de “apoio à luta do povo cubano” e de euforia em relação às manifestações contra o governo ocorridas em 11 de julho de 2021. Alguns setores, inclusive, já estão discutindo o futuro da Revolução Cubana.

Manifestações que, como tem sido noticiado, raramente ocorrem e que são atribuídas aos graves problemas econômicos. Problemas que são frutos especialmente do bloqueio norte-americano, intensificados em plena pandemia.

No dia 17 de julho o presidente de Cuba, Diaz-Canel, afirmou que foram veiculadas nas redes sociais imagens falsas das manifestações e que “o que o mundo está vendo de Cuba é uma mentira”.

E de que povo estamos falando?

De um povo que em 1959 fez a Revolução Cubana, livrou-se do ditador Fulgêncio Batista e deixou de ser um prostíbulo dos Estados Unidos da América – EUA. Em 1961 erradicou o analfabetismo e tem como herói nacional, José Marti, que no século XVIII afirmou “ser culto é a única forma de ser livre!”.

De um povo, que em todos os momentos tem enfrentado com discussão, organização, mobilização, conscientização e muita luta os diversos problemas: seja a chegada de um ciclone, a invasão norte-americana, a queda da União Soviética e suas consequências (Cuba perdeu cerca de 95% de suas relações comerciais), a pandemia mundial da covid 19 e o cruel bloqueio/embargo imposto pelos Estados Unidos.

E quando falamos de Cuba, estamos falando de uma ilha, ou seja, de um pequeno pedaço de terra cercado de mar por todos os lados. De um país onde 65% de suas terras são impróprias para a agricultura, de um país que não tem jazidas de petróleo jorrando facilmente. 

Estamos falando de um povo culto, que tem conhecimento não só sobre o seu próprio país (sua história, cultura, economia), mas sobre o mundo. Um povo que tem enviado filhos e filhas da pátria para lutar pela humanidade, sempre que um país ou um povo clama por solidariedade até mesmo agora durante a pandemia e não só nos momentos de tragédias nacionais. Que exercita a solidariedade cotidianamente e que se orgulha de ter servido e de servir às pessoas nos diversos continentes. Que através de suas organizações da juventude, sindicais, de mulheres, bairros, dentre outras, discute as suas condições de trabalho e de vida e apresenta as mudanças que julgam necessárias.

Estamos falando de um povo que elege seus vereadores, vereadoras, deputados, deputadas, os/as quais não precisam estar filiados/filiadas ao partido comunista cubano para se candidatarem, que não precisam de financiamento de campanha eleitoral e que depois de eleitos e eleitas continuam exercendo suas profissões e recebendo apenas os salários correspondentes às mesmas.

Por ter um regime parlamentarista é o parlamento que elege o presidente. Mas, um parlamento formado por cidadãos e cidadãs conscientes dos seus direitos e deveres e não por parlamentares vendidos/comprados pelos banqueiros e grandes empresários.

Que sabe o que é participação política e que se vê representado em todos os poderes, em todos os níveis, independentemente de suas origens étnico-raciais e de seu gênero. Que sabe o que é viver em segurança! Em Cuba você pode sair pelas ruas a qualquer hora do dia ou da noite, sem medo e risco de ser roubado ou assassinado.

Um povo que, com todos os seus problemas, com duros embates ideológicos internos busca saídas e soluções para os seus problemas e tudo que almeja é que lhes deixem viver em paz, que os Estados Unidos acabem com o bloqueio/embargo, que parem de financiar meios de comunicação ditos independentes ou alternativos para tentar impor seus modelos de “democracia” e “liberdade”, modelos que até mesmo em seus países são desmascarados e questionados.

EUA mantem o embargo contra Cuba por mais de 6 décadas

Poderíamos enumerar várias consequências desse bloqueio/embargo criminoso. Mas vamos citar dois fatos que demonstram o que significa ser um país embargado: 1. Em julho de 2019 dois navios com bandeira do Irã, que trouxeram ureia para o Brasil, foram forçados a ficarem vários dias parados no porto de Paranaguá, no Paraná, porque a Petrobrás se negava a vender combustível para abastecê-los, temendo sofrer represália dos Estados Unidos; 2. O novo presidente dos Estados Unidos, Joe Biden, não só mantém, mas aprofunda as medidas de Trump. E assim, empresas deixam de negociar até respiradores e medicamentos com Cuba, devido às ameaças de represálias dos Estados Unidos (https://bityli.com/hLwRa).  Um verdadeiro crime de lesa humanidade!

Em plena pandemia as restrições às exportações e ao comércio se intensificam e Cuba enfrenta dificuldades ainda maiores para obter insumos médicos, peças de reposição e alimentos. Houve drástica diminuição do turismo e apagões elétricos têm ocorrido no país.

Mesmo assim, Cuba é exemplo no combate ao coronavírus, não só em virtude das inúmeras brigadas de solidariedade enviadas para diversos países (inclusive da Europa), ao enfrentamento da a covid no país com bons resultados, mas em relação às vacinas contra a covid 19 produzidas em Cuba, que têm alta eficácia.

Imagine o que é um país viver nessa situação durante mais de 60 anos, com empresas sendo impedidas de comercializarem com Cuba, tendo que sair procurando algum país que possa vender o que precisam, com pagamento à vista e sem a certeza de que receberá o que comprou, devido às restrições e sanções impostas pelos Estados. Sanções que não se restringem ao comércio e às exportações, mas até mesmo às famílias, que muitas vezes são impedidas de enviarem os recursos financeiros que pretendam a seus familiares em Cuba.

Imagine o que isso significa em termos de perdas financeiras, de dificuldades para desenvolver-se economicamente e até mesmo continuar tratando da saúde de sua população de forma universal e com a qualidade reconhecida mundialmente. A informação prestada pelo governo cubano mostra que o país perdeu cerca de 5 bilhões de dólares somente no período de abril de 2019 a março de 2020 e estima-se que foram cerca de 144 bilhões de dólares nesses mais de 60 anos de bloqueio.

Não nos iludamos! As ditas ajudas humanitárias norte-americanas nas diversas partes do mundo e em especial para Venezuela e Cuba são uma farsa! São artimanhas criminosas para interferirem direta e indiretamente e até invadirem estes países, sempre com o discurso da defesa da democracia e da liberdade, como se tivessem autoridade moral para tanto.

O cinismo dos inimigos e das inimigas da Revolução Cubana se revela no fato de que escondem/ignoram que o sistema político estadunidense é dominado pelas grandes corporações capitalistas, que arrancam do Estado a compensação pelos tributos que pagam – o alívio dos seus tributos – e promovem o aumento da desigualdade social.

Também é cínica a defesa abstrata da liberdade, quando a população negra é o alvo principal da violência policial e do encarceramento em massa nos Estados Unidos.

E igualmente cínica é a afirmação de que Cuba é um Estado fracassado, como disse Joe Biden, quando em vários países latino-americanos eclodem revoltas populares intensas, que são reprimidas com extrema brutalidade pelas ditas “democracias” desses países, como no Chile, Colômbia e Haiti, por exemplo.

E, fora do nosso continente, mas partilhando uma realidade de enorme desigualdade social, a África do Sul explode em convulsão social, com dezenas de mortos. Nenhuma dessas dramáticas situações faz com que os vários matizes de liberais afirmem que o capitalismo fracassou, ou que esses países fracassaram por adotar o modelo capitalista e neoliberal. As acusações de fracasso são dirigidas apenas a Cuba.

Quem realmente apoia o povo cubano respeita o direito de Cuba de ser livre e de determinar seus próprios caminhos, respeita sua autodeterminação, seu processo histórico, compreende suas dificuldades e não se aproveita dos acontecimentos para em nome do apoio ao povo cubano fazer coro com os inimigos de classe contra um país que luta pelo direito a decidir o seu próprio destino.

Julho de 2021

Liberdade e Revolução Popular – LRP