INTRODUÇÃO

 A corrente sindical e popular Avançar na Luta defende uma concepção que sustenta que os sindicatos podem e devem desempenhar um papel estratégico fundamental na acumulação de forças na luta pela construção de uma sociedade socialista.

Afirmamos que essas entidades só podem cumprir efetivamente tal papel, na medida em que sejam ao mesmo tempo unitárias e abertas. Unitárias porque devem incorporar o conjunto dos trabalhadores/trabalhadoras de um ramo, preferencialmente, ou de uma categoria econômica. Abertas, na medida em que esta incorporação e participação deve se dar, independentemente de função ou cargo, forma de remuneração, filiação partidária, confissão religiosa, gênero, raça, orientação sexual, nacionalidade, do caráter do vínculo empregatício dos trabalhadores/as (se têm ou não carteira assinada, se trabalham em tempo integral ou parcial, etc.), de estarem ou não empregados, de estarem ou não na ativa.

Nossa posição é a de que as entidades sindicais, no capitalismo, sem prejuízo da função essencial de defesa dos interesses imediatos dos trabalhadores/as, da sua dimensão de corretoras do valor da força de trabalho, do seu caráter aberto, apartidário e de massas, são organismos inegavelmente políticos. São espaços de união das classes trabalhadoras e instrumentos de defesa e de luta pelos interesses dos assalariados contra os interesses do capital. Tais espaços precisam denunciar a exploração do trabalho e atuar aflorando o conflito de classes, evitando entrar na lógica do sindicalismo de resultados, que atua na lógica da barganha, amenizando a luta e escamoteando o conflito de classes.

A militância da corrente Avançar na Luta Sindical e Popular esforça-se para trabalhar as entidades sindicais como escola de constituição do proletariado enquanto classe, na perspectiva do fim da exploração do homem pelo homem, de toda forma de opressão e das classes sociais. Nossa corrente tem a convicção de que somente assumindo com dedicação as reivindicações econômicas e políticas imediatas dos trabalhadores e trabalhadoras é que os socialistas revolucionários podem levar adiante seu esforço constante em prol da aglutinação e da união da classe proletária, com autoridade ética e consistência organizativa e política.

Defendemos que, em cada conjuntura, ao trabalharmos para unir o proletariado, para sistematizar e dar coerência às suas reivindicações, devemos sempre buscar articulá-las ao programa socialista. Estamos convencidos/as de que é desde aí, e a partir de métodos de atuação radicalmente democráticos e de formas de luta combativas, que se faz possível colaborarmos para forjar uma consciência de classe dos trabalhadores e trabalhadoras. Entendemos que a atuação dos sindicatos e movimentos populares de forma isolada não contribui para o fortalecimento da classe frente aos desafios postos na conjuntura de total ataque aos nossos direitos. Nesse sentido defendemos a necessidade de estarmos vinculados a uma central sindical e popular, e nossa opção foi pela atuação na CSP Conlutas.

Sob este aspecto, nosso trabalho tem como uma de suas dimensões centrais evidenciar, o mais ampla e nitidamente possível, o conflito antagônico que opõe os interesses de patrões e de empregados; os propósitos do capital e os anseios do proletariado. E, nessa medida, que podemos, também aí e sobretudo na luta, colaborar para ampliar a compreensão dos trabalhadores e trabalhadoras e do povo sobre a necessidade de superarmos o capitalismo e da construção do socialismo.

Nossa ação no movimento sindical deve materializar o objetivo, a luta e os nossos anseios em transformar o país e o mundo em que vivemos. E acreditamos que isso somente será possível através da construção, pela via revolucionária, de uma democracia socialista.

Assim, a corrente Avançar na Luta Sindical e Popular compreende que se toda idéia decorre de uma prática, mas, também, antecipa a própria prática, o sindicalismo a serviço da revolução (que nos esforçamos por praticar e sistematizar seus aspectos centrais) é também um projeto ainda em desenvolvimento. Tal texto deve ser tomado como um esboço inicial rumo à definição das bases políticas, ideológicas e organizativas de tal projeto.

 

Algumas características centrais de um sindicalismo a serviço da revolução.

 

A construção de um sindicalismo comprometido, na palavra e na ação, com as transformações revolucionárias da sociedade exige que tal ação sindical esteja orientada numa leitura realista da realidade e articulada a uma estratégia coerente com este objetivo. Mas, não somente isso. É preciso também uma prática cotidiana que faça do sindicato uma verdadeira escola voltada para educação sindical e política dos trabalhadores e trabalhadoras. Deste modo, este sindicalismo a serviço da revolução deve se caracterizar e exige, entre outras coisas, o seguinte:

 

1) Defesa da unidade e de Sindicatos Únicos — É óbvio que o socialismo só será possível com a unidade organizativa e política dos trabalhadores e trabalhadoras. Eis porque um sindicalismo a serviço da revolução como o que defendemos propõe, sem tergiversação, a organização de sindicatos únicos por ramos de atividade econômica (com abrangência geográfica diversificada, de acordo com cada caso) para unificar organicamente a luta do povo trabalhador, rompendo com a pulverização sindical. Por que somos pela liberdade de organização e pela unidade sindical dos trabalhadores e trabalhadoras lutamos contra a estrutura sindical celetista, herdada da ditadura varguista, que pulveriza os trabalhadores/as, desde a base, em categorias profissionais, ao tempo em que os submete à tutela estatal. E também por isso que recusamos e combatemos o pluralismo sindical, que tanto os governos neoliberais e os patrões, quanto o sindicalismo social-democrata (incluindo o segmento majoritário na CUT) apresentam como alternativa aos sindicatos vigentes atualmente. Por isso, nos opomos ao chamado “Sindicato Orgânico”, aberto ou disfarçado, na nova embalagem, de Sindicato Nacional.

 

A persistência dos sindicatos celetistas e a não construção dos ramos têm como pontos de partida, além de fatores internos:

 

  1. a força da cultura construída pela estrutura sindical varguista, imposta ditatorialmente ao proletariado, há mais de 60 anos. Tal estrutura alimentou e complexificou o corporativismo como ideologia que está longe de ser superada no movimento sindical brasileiro, inclusive entre nós. E essa ideologia que leva as direções sindicais a trabalharem, a “sua categoria”, o “seu sindicato”, a “sua greve”, como o mais importante de tudo, como aquilo que tem prioridade sobre tudo e sobre todos. Por aí, não se faz esforço para conquistar e hegemonizar a base, a partir da diretriz política de unificação organizativa (isto é, num único sindicato) de todos os trabalhadores e trabalhadoras de um ramo.

 

  1. falta de democracia nas entidades sindicais —sem democracia socialista nas entidades sindicais é inviável a tarefa de construção dos sindicatos únicos por ramo de atividade econômica, como impulso autônomo dos trabalhadores e trabalhadoras. Entre outras razões, por isso impõe-se combater toda manifestação e prática antidemocrática, sobretudo pelas direções sindicais. Tal prática se caracteriza, entre outros, por: desrespeito às decisões e vontade da base e dos diversos segmentos do movimento, expressos de modo democrático nas assembléias, nos congressos e em outras instâncias; fraude às listas de delegados/as, manipulação das assembléias e fóruns de deliberação para que divergências não sejam colocadas em discussão ou para não se encaminhar o que a categoria deliberou em seus fóruns.

 

  1. aparelhismo — combinado com a ideologia corporativista (e, muitas vezes, alimentada por ela) é fenômeno corriqueiro entre os dirigentes a prática do aparelhismo. Este configura-se como a utilização não legitimada pelas instâncias competentes das entidades como instrumento, como “aparelho”, a serviço de objetivos políticos individuais do dirigente ou de seu grupo político. Não confundir com encaminhamentos aprovados nas intâncias da entidade, quando propostas são diferentes e a decisão se dá por voto. Ideologia e prática que são impostas sem passar pelos fóruns da entidade e funcionam como simples “correias de transmissão” dos objetivos políticos individuais de seus dirigentes ou de seu grupo — político-partidário ou não.

 

 

Assim têm sido criados e, em muitos casos desmembrados, sindicatos em função dos caprichos políticos de determinada direção sindical. Esse expediente tem sido posto em prática por pelegos, ligados ao “sindicalismo de negócios” e sindicalistas vinculados às Centrais, inclusive integrantes de correntes de esquerda.

 

2) Democracia socialista — Acerca da afirmação de uma prática democrática no movimento sindical, especialmente no âmbito de suas entidades, é preciso garantir o amplo debate das propostas e não havendo consenso colocam-se as propostas em votação. Deve-se garantir o exercício do processo de convencimento no debate antes da votação das propostas, evitando-se a política que se reduz ao simples levantar de crachás.

Acreditamos que devemos aprender a conviver com as diferenças, garantindo a mais ampla liberdade de expressão no interior das entidades, estabelecendo regras antes do processo ser aberto e de preferencia, o contido no Estatuto da Entidade, geralmente aprovado em congresso, portanto a expressão do que a base definiu no fórum maior do sindicato. Democracia que se associa sempre ao respeito às resoluções das instâncias de decisão e à unidade de ação em torno delas, através do encaminhamento efetivo das decisões políticas.

Outro elemento essencial da democracia é a ampla e livre circulação da informação no interior da entidade. Cabe à direção informar ao conjunto de sua base as decisões tomadas nos fóruns específicos.

Enfim, sem ampla informação não se constrói organismos dirigentes eficazes, fortes, plurais e democráticos.

 

Alguns elementos fundamentais para funcionamento democrático das entidades, segundo uma ótica socialista e revolucionária, em nosso país:

 

3) Direção Colegiada — Sustentamos que a forma mais democrática e transparente de exercer a direção sindical é através do sistema colegiado de diretoria. A direção colegiada ainda não foi assimilada por muitos sindicalistas e mesmo por suas bases, pois estamos habituados a um sindicato em que no máximo três pessoas (o presidente, o secretário geral e o tesoureiro) decidem sem aprovação da direção que deve ter reunião ordinária definida antecipadamente.

A luta pelo socialismo implica em que busquemos, sempre, em nossas ações e relações de hoje prefigurar e pôr em prática, atitudes que sinalizem a sociedade que queremos construir no futuro. Nesse sentido, a direção colegiada está em consonância com esse propósito. Os(as) socialistas afirmam que o socialismo precisa e valoriza a existência de líderes, mas ele não prospera onde predomina o personalismo e o verticalismo no exercício do poder. Nas entidades sindicais, assim, impõe-se que busquemos pôr em prática no cotidiano, atitudes que estimulem a ação coletiva e democrática. A direção colegiada coloca-se também como uma exigência de rompimento com a tradição coronelista de mando das nossas classes dominantes e com a cultura presidencialista induzida pela estrutura sindical getulista. Deve haver, portanto, um compromisso político e ideológico na defesa do colegiado como a melhor forma de exercer a direção sindical.

Desnecessário dizer, que o mecanismo de direção colegiada supõe a subordinação da vontade coletiva da diretoria à vontade coletiva da categoria, que é soberana em suas deliberações (assembléias, congressos, eleições, plebiscitos, etc.).

 

4) Participação das bases na direção — A superação do verticalismo, do cupulismo deve passar necessariamente pelo estabelecimento de mecanismos que favoreçam a participação, de fato e de direito, das bases organizadas nos rumos da entidade. É preciso valorizar as iniciativas que estimulam a participação dos/das ativistas sindicais, lado a lado com os/as diretores/diretoras constituídas, na luta dos trabalhadores e trabalhadoras, a partir do local de trabalho, no exercício da direção sindical. O conselho de representantes de base precisa ser constituído e a direção deve garantir o calendário regular de funcionamento, bem como condições efetivas para seu funcionamento. O Estatuto do SEPE garante a eleição dos representantes por escola e a formação do Conselho de Representantes. Para que tal política se concretize é preciso que a formação político-ideológica de quadros intermediários e de direção sindical esteja como uma das tarefas prioritárias da direção.

 

5) Proporcionalidade nas eleições sindicais: eleições diretas na base.

 

6) Realização periódica, de Congressos de Ramo ou da categoria representada pela entidade, como instância máxima de deliberação. Devem ser precedidos de ampla divulgação dos objetivos, pauta, condições de participação no Congresso; que seja efetivada a mais ampla participação das bases, garantindo-se a expressão real dos diversos matizes políticos e ideológicos presentes na base e condições para o aprofundamento dos debates e o exame atento e em profundidade dos assuntos em deliberação.

Um instrumento complementar importante da democracia socialista é o processo de consulta da direção às bases. Sem prejuízo do esforço sistemático e regular para realização de seminários, assembléias e congressos, devemos lançar não do Plebiscito nos locais de trabalho, para captar a opinião da base sobre questões julgadas relevantes para os/as trabalhadores/trabalhadoras.

 

7) Ação massiva– voltada para abarcar o conjunto dos representados/as, procurando transformar o sindicato em representante das aspirações e anseios de todos/todas trabalhadores/trabalhadoras do ramo ou da categoria. Isso independentemente de vinculações funcionais, ideológicas e religiosas, os /as têm interesses comuns e concretos que são a base da solidariedade e da luta unitária contra o mesmo inimigo. De forma geral, esse interesse da classe aparece mais nitidamente sob a forma das demandas econômicas, que cabe ao sindicato assumir com vigor, já que a defesa da melhoria da qualidade da vida dos trabalhadores e trabalhadoras é a razão mesma da sua existência.

Porém, é também ponto central de um sindicalismo comprometido com a revolução a ação constante visando ajudar o conjunto dos trabalhadores e trabalhadoras do ramo ou da categoria a perceberem as implicações políticas de sua luta, que forças se ocultam por trás do patrão e a incompatibilidade do capitalismo com os interesses do proletariado e das maiorias. Os(as) socialistas revolucionários, quando na direção, trabalham incansavelmente para que o sindicato seja, a todo instante, um educador coletivo, preocupado em elevar o nível de consciência e participação política dos trabalhadores e trabalhadoras;

 

8) Organização pela base — Em nossa concepção, a organização sindical de base é o elo mais importante de ligação das organizações com os trabalhadores e trabalhadoras, a partir de seus locais de trabalho. É através da organização de base que as entidades sindicais e suas direções podem sentir com fidelidade o pulsar do chão dos locais de trabalho. No sentido inverso, na ação das organizações de base é possível fazer com que as resoluções, planos de lutas e campanhas tiradas nas instâncias nacionais do movimento sindical, possam sair do papel e dos espaços de deliberação para os locais de trabalho e para as ruas.

Ao longo de diversos congressos, tem-se discutido a necessidade de ampliar o debate e, sobretudo, de se levar à prática a organização sindical de base. Realidade que está longe de avançar satisfatoriamente. Isso tem duas causas principais: 1) a tradição autoritária com que a burguesia brasileira (herdeira direta que é dos senhores de escravo) tem conseguido envenenar a vida social e política do nosso país, produzindo toda sorte de obstáculo a que a democracia penetre para além do portão dos locais de trabalho; 2) a cultura produzida pela estrutura sindical corporativista que prioriza as ações das diretorias sindicais.

Assim, é fundamental intervirmos sistematicamente em nossos sindicatos e em todas instâncias do movimento, de modo a que a livre organização, a partir da base, seja uma conquista e um direito exercitado diariamente pelo movimento sindical.

Neste sentido, deveria ser uma das prioridades do conjunto do movimento sindical impulsionar as lutas, trabalhando para gestar uma ofensiva política e ideológica em torno da necessidade da implantação em nossa sociedade da livre organização sindical, desde a base. Nossa disposição é a de encarar esta enquanto uma luta democrática crucial para o proletariado.

Tal diretriz não deve ser vista, assim, como um processo de realização de seminários, que se esgota na interlocução com o empresariado e ONGs ou nas negociações no parlamento e no interior do aparelho de Estado. Ainda que envolva a negociação e o debate amplo e aberto no Estado e na sociedade, a demanda central e inegociável de livre organização, a partir do local de trabalho, tem que estar articulada às lutas concretas e ao avanço da consciência dos trabalhadores e trabalhadoras, rurais e urbanas, da atuação nas CIPAS, da utilização dos delegados e delegadas sindicais, etc., a partir da situação concreta de cada ramo ou categoria e de cada região.

Estas são medidas indispensáveis à prática de um sindicalismo transformador em qualquer conjuntura. Porém, no atual momento, elas se tornam prementes para o enfrentamento da política anti-sindical do governo e dos patrões (sem esquecer do trabalho de cooptação e de disputa ideológica continuada sobre os trabalhadores e trabalhadoras nas técnicas e métodos de organização da produção atuais) que tem como uma de suas armas preferenciais as demissões seletivas e a repressão e intimidação do trabalho de organização de base.

 

9) Politização da ação sindical — Para avançar no trabalho sindical numa perspectiva revolucionária há que se superar duas concepções, que, embora com os sinais trocados, contribuem para a despolitização do movimento sindical. A primeira, ainda que parta do correto pressuposto de que as entidades sindicais são, em primeira instância, “corretoras do preço da força de trabalho” dos segmentos que representam, peca por não perceber que o horizonte dos sindicatos está longe de situar dentro de limites tão estreitos. É falsa a concepção de que a luta política leva necessariamente à partidarização das entidades. Aliás, são as classes dominantes e seus aliados no movimento sindical, que se esforçam para difundir a tese “sindicalismo se faz nos sindicatos e política no parlamento”, como desculpa para justificar a repressão que exercem sobre o movimento sindical.

O próprio fato de que a melhoria salarial e econômica dos trabalhadores e trabalhadoras passe, via de regra, por decisões políticas é suficiente para demonstrar a inexistência de um muro intransponível entre a ação sindical e a política.

A propósito, é a pretexto de uma suposta prática sindical higienizada de “partidarismos” e da “política”, que o “sindicalismo de negócios”, exercitado na sua forma mais aberta pela Força Sindical, não raro toma o partido do capital, do governo e das medidas neoliberais, defendendo teses como a da parceria patrão/empregado e da identidade de interesses entre o capital e o trabalho.

A corrente Avançar na Luta defende e busca pôr em prática uma linha contrária. Trata-se de uma perspectiva que trabalha insistentemente para que os/as dirigentes e ativistas sindicais se esforcem para explicitar (seja na orientação de cada embate, seja no trabalho mesmo de agitação e propaganda) aos trabalhadores e trabalhadoras, em cada ação e em cada ocorrência da vida política e social, os fundamentos e as implicações políticas para o proletariado e para burguesia, os interesses em jogo etc. Numa frase, nosso esforço deve ser sempre o de elevar o nível de consciência e participação sindical e política da classe. Este, ainda que nem sempre possível de ser avaliado adequadamente, é sempre o maior ganho que as lutas podem obter.

A outra concepção a ser superada é aquela que, em nome de uma retórica revolucionária, independentemente do discurso e das intenções dos sindicalistas portadores desta concepção, acaba trabalhando pela “partidarização dos sindicatos

Partidarização esta, entendida como um processo em que, através da violação do funcionamento das instâncias e das normas democráticas, as entidades sindicais são reduzidas a simples correia de transmissão dos interesses de um partido ou de um grupo político. Não raro, o resultado disso é a transformação das entidades em veículo exclusivo das posições de um agrupamento político, explicitamente partidário ou não.

Ao contrário disso, a livre discussão das posições políticas por parte dos trabalhadores e trabalhadoras, a decisão por um caminho de luta, inclusive política, através de seus mecanismos democráticos e, a partir daí, a ação política ao lado de partidos políticos, significam um avanço de qualidade na luta. Neste caso, a autonomia sindical assume o seu sentido pleno, que é de ser uma alavanca para a completa emancipação econômica e política dos trabalhadores e trabalhadoras.

Nessa linha, impõe-se superarmos as reuniões sindicais que colocam em suas pautas somente questões administrativas, não fazendo e desprezando análise da conjuntura política e econômica (isto é, não cuidando de fazer um balanço das forças com que contam em cada momento o patronato e o proletariado), deixando tirar disso as necessárias decorrências para ação sindical. Politizar é possibilitar, efetivar e estimular a discussão sobre as várias concepções presentes no movimento, identificando suas bases teóricas e suas teses centrais. É por aí que se eleva o nível do debate e avança-se na superação do subjetivismo, do sectarismo e minimiza-­se a prática da “queimação” e de outras formas deseducativas de travar a luta política.

Mas, não basta falar em luta política. É preciso saber travá-la de forma concreta, considerando para isto a correlação de forças dentro da sociedade em cada momento e uma estratégia que acumule no sentido da revolução. Um equívoco sempre presente no movimento é aquele que se manifesta aos gritos de “viva a luta política”, enquanto na prática busca-se enterrá-la. Seus porta-vozes confundem qualquer explosão popular com manifestações de consciência e de organização, que os trabalhadores e trabalhadoras em sua larga maioria, ainda estão longe de vivenciar. Embalados por essa falsa avaliação, muitos desprezam a luta por objetivos parciais e se recusam a travar a luta política nos espaços onde ela está explicitamente colocada. Não raro, numa das vertentes desse equívoco, muitos limitam-se a sustentar reivindicações econômicas, articuladas a uma consigna estratégica global, descolada do nível de consciência real dos segmentos proletários em luta.

Exemplos dessa conduta equivocada são fartos. É o caso daqueles que, em termos práticos, se recusam a interferir nos processos eleitorais, a pretexto de encaminhar reivindicações econômicas, devidamente afastadas do processo de campanha. É o caso dos que, em nome do combate ao eleitoralismo de alguns e à degeneração de outros, se omitem das disputas institucionais, deixando o caminho livre precisamente para as forças do capital e/ou para justamente aqueles criticados disputarem a consciência e a influência sobre os trabalhadores e trabalhadoras.

Com isso, na prática, acabam instituindo uma estranha divisão do trabalho: as reivindicações econômicas ficam ao encargo dos movimentos sociais e dos trabalhadores; já as demandas e os temas propriamente políticos seriam monopólio de parlamentares, prefeito etc. Os setores mais “ideológicos” e autodenominados “revolucionários”, sofisticam essa prática acoplando, doutrinariamente, a propaganda da tomada do poder às demandas econômicas. As conseqüências de tal política tendem a se manifestar no isolamento do setor mais avançado no movimento sindical e no aprisionamento das massas na camisa-de-força dos sucessivos embates econômicos.

 

10) Direção sindical socialista — É indiscutível que os tempos atuais exigem sindicatos cada vez mais fortes, amplos, enraizados na base e dirigidos com eficiência e em bases profissionais. Estas são condições, entre outras, para que possam atender os anseios das bases.

E com essa compreensão que a Avançar na Luta Sindical e Popular busca impulsionar a questão da direção política das entidades sindicais. Nossa percepção é a de que não contribuem para luta socialista, aquelas direções sindicais que, embora combativas, são incapazes de compreender e de articular a luta dos trabalhadores e trabalhadoras de seu ramo ou de sua categoria, com as lutas operárias, populares e democráticas em curso na sociedade e menos ainda com as tarefas gerais da luta socialista postas para aquele momento. Neste caso, estamos frente a uma direção corporativista que, muitas vezes, conduz esses embates, apenas para manter o “status” de liderança de sua corporação, cultivando os diversos vícios e desvios que essa orientação sindical estimula.

 

Para ajudar a romper com essa situação e colocar de fato a máquina sindical a serviço dos interesses reais da base e da luta, algumas medidas se impõem:

 

  1. Explicitar, sempre, de modo amplo e intenso junto à base, o programa e os objetivos que propomos para a categoria. Sem prejuízo do caráter continuado desse esforço, constituem-se momentos especiais desse trabalho, as campanhas eleitorais e os processos preparatórios das grandes campanhas e lutas das entidades;
  2. Abrir para toda a base o debate da condução do sindicato, constituindo e mantendo azeitados os canais de participação desta no controle do sindicato no dia-a-dia;
  3. Planejar o trabalho da direção, sempre com ampla participação dos/das ativistas e da base, onde estejam perfeitamente delimitadas: as metas, as tarefas, os meios, os recursos, as formas de efetivar, os prazos e ns respectivos responsáveis. No quadro de tal Planejamento, merecem lugar privilegiado o trabalho de organização de base, a permanente ligação da direção com o cotidiano do chão dos locais de trabalho, as atividades de formação política, a comunicação, o trabalho cultural e esportivo, a inserção da entidade na luta geral ‘da região e do país etc.
  4. Definir uma política explícita de sustentação da entidade contrária as chamadas contribuições compulsórias;
  5. Garantir formas de relação estável, constante politizada e organização do sindicato com as lutas e entidades representativas de outros segmentos explorados e oprimidos da sociedade;
  6. Radicalizar em mecanismos de transparência e profissionalização da gestão dos recursos materiais e financeiros da entidade, bem como no que concerne às ações na área de comunicação, saúde, cultura, formação.
  7. Considerar que o corpo de trabalhadores e trabalhadoras da entidade deve estar a serviço da luta, a serviço do movimento; o que requer, como contrapartida e pré-requisito, um coletivo de trabalhadores e trabalhadoras formados politicamente, portador de espírito militante e adequadamente remunerado.
  8. Incansável e politizado combate ao assistencialismo no sindicato, inclusive no terreno jurídico;
  9. Permanente trabalho de desburocratização do funcionamento da “máquina” e das diversas ações fins da entidade.
  10. Trabalho sistemático de liberação da diretoria da entidade das ações burocráticas para as atividades de direção política.
  11. Eleição do Conselho Fiscal;
  12. Trabalhar de tal modo a garantir a rotatividade dos dirigentes sindicais no exercício dos cargos de direção da entidade e um organizado e constante processo de renovação dos dirigentes.
  13. Adoção do quorum mínimo de 10% dos trabalhadores e trabalhadoras nas assembléias que deliberem sobre a venda de patrimônio, alteração dos estatutos e aprovação de convenções ou acordos coletivos de trabalho.
  14. Instituição de Comissão de Ética nos sindicatos, com integrantes eleitos separadamente da diretoria.

 

 

Eles fecham, nós abrimos as fábricas.

Eles roubam as terras e nós ocupamos.

Eles fazem guerras e destroem nações, nós defendemos a paz e a integração soberana dos povos.

Eles dividem e nós unimos. Porque somos a classe trabalhadora.

Somos o presente e o futuro da humanidade”.

(1º. Encontro Latino Americano de Empresas Recuperadas pelos Trabalhadores,

 Caracas, 29/10/05).

 

 

Outubro 2015