Bloco da Esquerda Radical
Manifesto por um PSOL de luta, radical e pela base
O primeiro ano de governo Bolsonaro foi de duros ataques contra o conjunto da população, de retirada de direitos dos trabalhadores e trabalhadoras, de aumento brutal da violência e do autoritarismo – sobretudo contra a população indígena, negra e pobre – de aprofundamento da destruição do meio ambiente e da Amazônia. Em conluio com as instituições financeiras, o agronegócio, o fundamentalismo religioso e outros setores reacionários da sociedade, Bolsonaro tem por objetivo fazer com que a classe trabalhadora e os setores mais necessitados da sociedade paguem a conta da crescente crise econômica que assola o país.
Apesar desse cenário e das previsões que culpavam o povo por não querer lutar, seguem ocorrendo lutas e enfrentamentos ao governo. No primeiro semestre um verdadeiro tsunami da educação levou centenas de milhares às ruas contra os planos de Bolsonaro de privatizar e atacar a educação pública. As ruas também foram tomadas em defesa da Amazônia, pelo direito das mulheres no 8 de março e na greve geral de junho contra a reforma da previdência dos banqueiros, do governo Bolsonaro e do Congresso Nacional. Importante destacar a participação na greve geral de setores como os metroviários de São Paulo e os metalúrgicos do ABC. Merecem destaque, também, as manifestações dos povos originários ocorridas em Brasília: o 15º Acampamento Terra Livre, realizado em abril deste ano, com o lema: “Sangue indígena, nenhuma gota a mais!” e a 1ª Marcha das Mulheres Indígenas, pela Demarcação das Terras, Saúde e Educação.
Infelizmente essas lutas mais gerais não se intensificaram no segundo semestre, graças sobretudo ao papel cumprido pelos principais partidos da oposição, como a esquerda da ordem (PT/PCdoB), e pelas maiores centrais sindicais, como a CUT/CTB, que atuaram sistematicamente para esvaziar os processos de luta. Exemplos não faltam, como o fato de não convocarem nenhum calendário de lutas unificado ou ainda na traição direta como a praticada em correios, bancários e petroleiros na luta contra as privatizações.
É preciso impulsionar as manifestações, preparar novos protestos massivos e construir uma greve geral, para derrotar o governo e sua política. Para isso precisamos fortalecer as mobilizações em curso. E, em sintonia com essa agenda de lutas, organizar uma forte mobilização pelo Fora Bolsonaro/Mourão.
Os governos supostamente progressistas do Nordeste, como o do PT na Bahia, ao invés de impulsionarem a luta contra a reforma da previdência de Bolsonaro, costuravam uma reforma da previdência estadual. Camilo Santana (governador do PT no Ceará) levou 9 dias para aprovar o desmonte da previdência dos servidores do Estado. Exposto pelos protestos, reprimiu brutalmente os manifestantes que foram às ruas contra a reforma, se utilizando da violência política como instrumento de gestão. Além disso, se utilizou de velhas práticas da direita tradicional, sempre condenadas por nós, de apresentarem pacotes que retiram direitos no apagar das luzes do ano, momento de difícil mobilização popular. Sem romper com as práticas de seus aliados da direita tradicional, a esquerda da ordem (PT/PCdoB), onde governa atende às demandas dos banqueiros e das elites, sejam elas internas ou externas. O governador do Maranhão, do PCdoB, defendeu a entrega da base de Alcântara para os EUA, abandonando uma luta histórica da esquerda brasileira contra o imperialismo norte-americano.
O objetivo do PT não é derrotar Bolsonaro, mas desgastá-lo para 2022. Lula recém-saído da prisão deixou explícito que defende que Bolsonaro termine seu mandato e que os planos para derrotá-lo estão limitados ao terreno eleitoral.
A velha estratégia da conciliação de classes não pode resolver os problemas do povo. Assistimos o crescimento do desemprego, da fome, da violência, da destruição ambiental e dos serviços públicos como saúde e educação. Não é possível conciliar interesses tão antagônicos. As rebeliões que ocorrem pelo mundo inteiro, onde as massas enfrentam os planos de ajuste em seus países, nos ensinam uma importante lição: ou enfrentamos o sistema capitalista ou impomos mais miséria à classe trabalhadora.
Se a estratégia petista tiver êxito e ocuparem o posto central do país, essa ilusão na conciliação de classes vai ser desfeita novamente, assim como foi com o estelionato eleitoral de Dilma em 2014.
Essa desilusão com quem se apresentava como defensor dos interesses das trabalhadoras e dos trabalhadores, foi um importante combustível do crescimento da direita. Por isso, nesse cenário de barbárie e de governo Bolsonaro faz falta uma alternativa radical à esquerda. Essa ausência favorece as saídas autoritárias.
Infelizmente uma parte do PSOL e da esquerda socialista tem insistido em tentar reconduzir Lula e o PT à condição de dirigentes da esquerda. O PSOL precisa adotar outra política, colocar-se efetivamente contra a ordem para enfrentar a barbárie, em sintonia com a luta de classes, vinculado à onda de protestos, levantes e insurreições revolucionárias que varrem o mundo.
A tarefa imediata dos/das socialistas é preparar o combate à retirada de direitos dos trabalhadores e trabalhadoras, contra a criminalização dos/das que lutam e de suas organizações. Devemos defender as liberdades democráticas sem esquecer de suas limitações no sistema capitalista.
Devemos também fortalecer as lutas feministas e pelo respeito à diversidade sexual; de resistência indígena e quilombola em defesa de seus territórios, do meio-ambiente e da vida; de toda população negra contra a super exploração que vive, agravada pelo crescente extermínio de sua juventude; das pessoas com deficiência e de suas particularidades enquanto sujeitos.
No atual contexto, o centro da luta política se deslocou, de modo ainda mais explícito, do parlamento para as ruas. Portanto, os/as socialistas devem combater todas as iniciativas que busquem desviar as lutas populares e a oposição central ao governo para o terreno eleitoral.
Em defesa dos interesses da classe trabalhadora devemos buscar a mais ampla unidade de ação. Porém, não podemos abrir mão de nossa independência política. Ou seja, não devemos deixar de nos diferenciar, sempre que necessário, dos setores vacilantes ou traidores, que atrapalham o desenvolvimento da luta, e nem de apresentar nosso programa.
Não devemos confundir a unidade de ação com a construção de uma frente política/frente ampla, estratégica. O grande desafio da esquerda radical segue sendo formar um polo programático alternativo à direita tradicional e à esquerda da ordem (PT/PCdoB). Esse polo deve ter influência de massas, colocar na agenda nacional a defesa da bandeira “direitos já”, o combate ao sistema da dívida e ao sistema capitalista, que através de uma intervenção popular, de baixo para cima, altere os rumos do país, em contraposição ao ultraliberalismo econômico e ao autoritarismo político de Bolsonaro.
PT, PC do B e afins são a “esquerda da ordem”. Isso significa dizer que não têm compromisso com a transformação radical do sistema. Mais do que isso: são obstáculos para tal transformação. Portanto, devem ser superados em termos programáticos e políticos. Isso fica evidente quando se leva em conta tanto o passado (os governos de Lula e Dilma) quanto o presente (os atuais governos destes partidos). Nesse sentido, foi um erro a constituição da Frente Democrática – Frente Política envolvendo PSOL, PCB, PT, PC do B e afins. Também foram equivocadas a formação do Bloco de Oposição na Câmara dos Deputados (PT, PSB, PSOL e Rede) e do Observatório da Democracia, patrocinada pelas Fundações do PT, PSOL, PDT, PSB, PPL, PC do B e PROS.
Ao invés de seguir a reboque do PT ou querer elevar Lula à condição de “craque do time” da esquerda brasileira, precisamos construir outra alternativa. Uma alternativa que tenha como ponto de partida os interesses dos trabalhadores e das trabalhadoras, que esteja comprometida com a construção das greves como a dos educadores do RS. Que esteja disposta a lutar pela anulação das reformas de todos os governos da Nova República, que nos retiraram direitos ao longo dos anos. Que enfrente o sistema financeiro, suspendendo imediatamente o pagamento da dívida e inicie uma auditoria com participação popular, desde o período da ditadura militar aos dias atuais. Uma FRENTE CLASSISTA E ANTICAPITALISTA que esteja disposta a construir a luta cotidiana com uma perspectiva socialista, de ruptura, e não de manutenção da ordem vigente. Uma frente classista e anticapitalista que toque as lutas e construa uma real alternativa política e programática de esquerda e socialista, expressando um projeto de independência de classe. Da mesma forma, nas eleições de 2020, o PSOL deve se manter firme contra os partidos da ordem, não fazendo coligações com aqueles que praticaram o ajuste fiscal e fizeram negociatas nas cúpulas dos poderes constituídos quando governaram.
Só assim poderemos superar a extrema direita, apontar uma alternativa real à barbárie capitalista e poderemos constituir uma alternativa de direção política à “esquerda da ordem”.
As dificuldades são muitas. Será preciso superar a autoproclamação e o sectarismo. Esse é um desafio vital. Na ausência de uma alternativa anti-sistêmica, a provável desilusão com o governo Bolsonaro alimentará soluções ainda mais cruéis. Somente uma alternativa como esta será capaz de apresentar um programa socialista, uma verdadeira alternativa para a sociedade. Além disso, apenas ela terá condições de disputar tanto o “eleitorado progressista”, que desde o início rejeita Bolsonaro, quanto a parcela da classe trabalhadora que equivocadamente votou no ex-capitão mas que está cada vez mais descontente com o presidente, porém tem aversão ao PT.
É dentro dessa perspectiva que fazemos um chamado ao conjunto da militância pela construção de um campo político no PSOL, que enfrente a refundação do partido protagonizada pela Aliança e pelas organizações que a animam – Alternativa Popular, Insurgência, LSR, Primavera Socialista, Resistência, Subverta e Coletivo à Esquerda É urgente construir a unidade da esquerda socialista em torno de uma alternativa radical para o Brasil.
Sabemos que não somos os únicos a defender essa visão política dentro do PSOL. Para enriquecer o debate no partido e enfrentar o processo congressual mais fortalecidos, entendemos ser necessário reunir essa militância dispersa pelo país, organizada ou não em pequenos grupos nacionais ou regionais – ou independentes, que tem avaliações muito próximas das expressas neste documento. Juntos e juntas somos muito mais fortes. Fica o convite!
ASSINAM ESTE MANIFESTO:
ALTERNATIVA SOCIALISTA – AS
CORRENTE SOCIALISTA DE TRABALHADORAS E TRABALHADORES – CST
LIBERDADE E REVOLUÇÃO POPULAR – LRP
LUTA SOCIALISTA – LS
PSOL PELA BASE
SOCIALISMO OU BARBÁRIE – SOB
Douglas Diniz – Executiva Nacional do PSOL
Danilo Bianchi – Diretório Nacional do PSOL
Joice Souza – Diretório Nacional do PSOL
Rana Agarriberri – Suplente Diretório Nacional do PSOL
Babá – Vereador PSOL Carioca
Renato Cinco – Vereador PSOL Carioca
Plinio de Arruda Sampaio Júnior – PSOL/SP
Marinalva Oliveira – Executiva PSOL Niterói e ex. Presidenta do Andes-Sindicato Nacional
Cássia Ceres – Executiva do PSOL/Belém/PA – Setorial Nacional de Mulheres
Mariana Martins – Coordenação Nacional do Setorial Ecossocialista do PSOL
Beto Bannwart – Coordenação Estadual do Setorial Ecossocialista do PSOL/SP
Claudia Santana Martins – Coordenação Estadual do Setorial Ecossocialista do PSOL/SP
Janaína De Assis Matos – PSOL/RJ, Setorial Anti-Fascismo do PSOL.
Liliana Maiques – Tesoureira PSOL Carioca e Coletivo Estadual do Setorial de Mulheres do PSOL RJ
Daniel Monteiro – PSOL RJ
Sergio Granja – PSOL/RJ
Marisa Menezes Pinto – PSOL/RJ
Abdik Santos – Diretório PSOL Santarém PA
Alan Martins – Executiva Municipal do PSOL Embu das Artes/SP
Alexandre Lisboa – Direção do PSOL São Sebatião/SP, Direção Sindserv
Alexandre Pacheco – Diretório Municipal do PSOL Jacareí/SP
Ana Cristina da Silva Veras – Direção do PSOL/PI – Movimento da Saúde
Angelo Balbino – Executiva Regional do PSOL/DF
Bárbara Sinedno – Executiva PSOL Carioca e Direção do SEPE RJ.
Beto Vieira PSOL – Diretório Santo André
Bianca Damacena – Executiva PSOL RS
Bruno da Rosa – Gari e Diretório PSOL Carioca
Caio Sepúlveda – Diretório PSOL RJ
Cícero Nogueira da Silva Neto – Presidente do PSOL de Areia Branca/RN – Dirigente do Sindprevs/RN.
Cindy Ishida – Executiva PSOL MG e DA-IGC UFMG
Cinthia Lima – Diretório PSOL Ananindeua PA
Davi Paulo de Souza Junior – Presidente do PSOL Jacareí/SP, Direção do Sindicato dos Químicos de São José dos Campos e Região/SP.
Demetrius Vicente Marcelino – Presidente do PSOL Aparecida/SP, Oposição Sindicato dos Servidores Municipais de Aparecida.
Denis Melo – Executiva PSOL Carioca
Edivaldo de Paula – Executiva PSOL Belo Horizonte MG
Edson Bomfim dos Santos – Dirigente do PSOL Vitória/ES – Militante do QRC.
Emanuelly Nery – Presidente do Diretório Municipal do PSOL de São José dos Campos/SP
Ester Cleane – Diretório PSOL RJ
Eziel Duarte – Diretório PSOL Belém PA
Francisco Jose da Silva – Dirigente do PSOL/PI, PSOL Teresina/PI
Gabriel Rodrigues – Advogado, Suplente da Direção do PSOL Ananindeua/PA.
Gesa Linhares Corrêa – Diretório Estadual do PSOL/RJ, Diretora do Sepe Lagos.
Gilberto Silvério – Direção do PSOL São José dos Campos/SP
Halley Cunha – Direção do PSOL de Porteirinha/MG.
Humberto da Silva Michaeli – Direção do PSOL Vassouras/RJ
Iano Serrão – Executiva do PSOL/Ananindeua/PA
Ivana Fortunato – Diretório PSOL Niterói RJ
Ivo Ribeiro – Diretório PSOL Uberlândia MG
Jacirene – Direção do PSOL Baião/PA e Coordenação da Sub-Sede de Baião/PA.
João Batista – Presidente Municipal PSOL Embu Guaçu/SP
José Antônio (Toninho) – Direção do PSOL Baião/PA e Coordenação da Sub-Sede do Sintepp de Baião/PA.
José Luiz Primola – Presidente do PSOL Nova Iguaçu/RJ
Kerollem Waleska – Diretório PSOL Santarém PA
Léo Zanzi – Executiva PSOL Campos RJ
Lucas de Andrade – Diretório PSOL Santa Maria RS
Manuel Iraola – Direção Estadual do PSOL/SP
Marcello Bertollo – Diretório PSOL Niterói RJ
Mariana Borzino – Diretório PSOL Niterói RJ
Nancy de Oliveira Galvão – Executiva Estadual do PSOL/SP
Natália Granato – Diretório PSOL MG
Natália Lucena – Executiva PSOL Uberlândia MG
Reginaldo Reis – Direção do PSOL Baião/PA e Coordenação da Sub-Sede do Sintepp Baião/PA.
Reinaldo – Tesoureiro PSOL Embu Guaçu/SP
Renato Leandro Vieira – Direção do PSOL São José dos Campos/SP
Rodrigo Martins – Presidente Municipal PSOL Taboão da Serra/SP
Rosi Messias – Executiva PSOL RJ
Rubens Teixeira – PSOL Belo Horizonte/MG, Direção Estadual do PSOL Minas Gerais.
Silaedson (Juninho) – Executiva PSOL RJ
Silvia Leticia – Executiva do PSOL/Pará, Coordenadora Geral do SINTEPP Belém e Secretaria Executiva Nacional da CSP-Conlutas.
Simone Caixeiro Gonçalves da Silva – Dirigente do PSOL Nova Iguaçu /RJ
Sueli Alves – Diretório PSOL São Bernardo do Campo
Suzete Chaffin – Professora, Direção do PSOL Jacareí/SP
Valdeburg Barros dos Santos – Dirigente do PSOL/PI, Movimento Camponês.
Vera Coimbra – Direção do PSOL Ananindeua/PA
Virgilio Moura – Advogado, Direção do PSOL/PA
Wellington Luiz Cabral – Direção do PSOL São José dos Campos/SP, Executiva da FETQUIM/SP
Zarah Trindade – Direção do PSOL/Belém/PA.
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